segunda-feira, 30 de maio de 2011

A ATRIZ H / Sergio de Carvalho

ensaios, de alegria e espanto,

como as velhas divindades

(na mão, uma cicatriz).

No centro móvel da cena,

Ela percorre desvios

Estaca a fala, suspende o rito

Cadê o cenário? Inaugura o sentido

No gesto em que tudo já era

no ato em que tudo é princípio

seu despudor é risonho

quase ofensivo

à cata da relação

precisa.

Porque sabe o que interessa,

seu papel tipo,

quiçá um estilo,

parece antigo,

inapreensível,

vibra cordas da razão.

Poderia ser dito, de modo mais materialista:

“É melancólica essa beleza

Que sabe seu agora”

No olho do vivo.

Seu tempo de teatro é exato

como seu corpo:

prático, límpido, nítido, último.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

O simples


Kaká Pimentta

É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso...

Relendo versos de poetas e escutando música de Betânia, sinto como

Saramago “que meu coração não é de ferro, é de carne e sagra todo dia.”

Como e doce e amargo existir

Como é lindo e feio sentir

Como o simples é tão complicado?

Como?

A se eu tivesse a chave pra abrir essa porta

e tivesse a resposta

para pergunta que incomoda.

Viver é o eterno esperar pela morte

Pelos dias / pela sorte

Quem saberá o que será ?

Sinto...

Sinto o cheiro da manhã / sinto o gosto da água

Sinto falta de sentido /e sinto sentido completo

Ah, que duro e viver

Ah, que lindo e morrer

Serão essas minhas últimas palavras?

Temo? Sinto medo de deixar...

Tudo em mim se contradiz

É posso ver ... Posso sentir?

Como?

Escuto Betânia... Sinto Clarice, vejo Saramago.

Que amargo e doce poder sentir

Choro o choro sincero dos poetas

Animais que sagram os olhos a alma e o coração

Derramo-me em sentimentos que não me cabem apenas por dentro

Exalo , escorro pelas gretas de letras que Clarice deixou .

Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade. (Clarise Lispector)



Post by/ Kaká Pimentta